Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)
Afinal, o que é Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade?
Hoje, raros são os pais que chegam aos consultórios de Neurologia Infantil sem nenhuma informação sobre o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). A maioria ouve muita coisa sobre o tema, mas acaba por receber pouco esclarecimento, no final das contas.
Em todo o mundo, as estatísticas mostram que, em salas de aula, de 3% a 10% das crianças apresentam o transtorno. São números significativos, que justificam a necessidade de difusão de informações corretas entre professores e educadores a respeito do tema.
A maior divulgação de informações sobre TDAH, nos últimos anos, tem facilitado a suspeita desse transtorno pelos próprios pais e professores, dando oportunidade de procurar ajuda profissional mais precocemente.
A outra face da moeda, porém, é que a ansiedade em torno do assunto também tem crescido e, junto com isso, alguns mitos. Há muitas conclusões precipitadas e “diagnósticos” equivocados por aí, bem como preconceito em relação ao tratamento medicamentoso.
O ponto número um a ressaltar é que o diagnóstico deve ser feito inicialmente por um médico especializado na área, geralmente um neurologista ou psiquiatra infantil. A avaliação médica é fundamental para avaliar e investigar se de fato uma criança, em idade escolar ou não, apresenta o transtorno, bem como afastar outras patologias que podem ser confundidas com o TDAH.
O transtorno
O TDAH é um distúrbio neurocomportamental, ou seja, em que alterações bioquímicas cerebrais influenciam no comportamento. Pode haver sinais predominantes de desatenção, ou de hiperatividade, ou mesmo ocorrer de forma mista, com sobreposição dos dois padrões de comportamento.
É importante frisar que o quadro nada tem a ver com capacidade cognitiva, ou seja, não afeta a inteligência da criança. Porém, o TDAH pode afetar outras atividades cerebrais que são essenciais para o aprendizado, com prejuízo de funções como a memória de execução, o raciocínio verbal, a concentração da atenção e sua manutenção, motivação e interesse.
A dificuldade em manter o foco, a atenção, geralmente, leva a fracassos escolares, sobretudo se o ambiente não estiver devidamente preparado para lidar com esse aluno.
Além disso, a situação é, muitas vezes, agravada pela dificuldade de adaptação social causada pelo comportamento disperso e/ou hiperativo - o que pode levar também a criança a desenvolver uma atitude ainda mais arredia, desmotivada e até mesmo depressiva.
É mais comum afetar os meninos e os primeiros indícios do TDAH, em geral, manifestam-se antes dos 7 anos de idade e acompanham o indivíduo até a sua vida adulta.
Alterações no sistema nervoso
As causas do TDAH envolvem tanto fatores genéticos como sócio-ambientais. Observa-se, por exemplo, que situações como o abuso de drogas pela mãe durante a gestação, prematuridade e baixo peso são fatores de risco para o problema.
No cérebro da criança, o que ocorre são alterações bioquímicas no sistema nervoso central, mais especificamente na produção de alguns neurotransmissores (substâncias que agem nas sinapses, ou
|
|
seja, nas conexões entre os neurônios), especialmente os da dopamina, noradrenalina e serotonina.
Essas substâncias atuam em vias cerebrais importantes e, por isso, tais alterações levam a alguns distúrbios no funcionamento de certos circuitos (como exemplo, o circuito frontoestrital, responsável pelas funções executivas, isto é, pelo planejamento, monitorização e execução de atividades complexas ou novas para o indivíduo).
Sintomas do TDAH
Alguns sinais que chamam a atenção para esse transtorno:
• Dificuldade em manter a atenção; são “desligados”, vivem “no mundo da lua”. Às vezes parecem não ouvir.
• Quando uma atividade exige maior atenção e esforço, desistem com facilidade. Por isso, muitas vezes, não completam a lição da escola.
• Podem ser desorganizados, perder objetos importantes com frequência.
• Alguns apresentam inquietude motora (movimento constante de pés e mãos ao ficarem sentados) e comportamento impulsivo.
• Pode-se observar um excesso de atividade motora; parecem estar “ligados a todo o vapor”.
Investigação
O diagnóstico é feito através da observação de um conjunto de fatores relativos ao comportamento e respostas daquela criança, por meio de critérios clínicos.
Os padrões de comportamento indicativos do transtorno devem ser observados em mais de um ambiente onde a criança transite, como a casa e a escola, por exemplo.
Não há nenhum exame médico para o diagnóstico do transtorno, entretanto, caso o médico julgue necessário, podem ser solicitados exames para afastar a possibilidade de outros quadros patológicos. É comum sua associação com outros transtornos como enurese (liberação de urina durante o sono), tiques motores, dislexia e depressão.
Tratamento
O tratamento está indicado quando há comprometimento social e prejuízo do rendimento escolar, ou seja, os sintomas devem causar impacto sobre a vida do paciente.
Não há uma única forma de tratamento do TDAH. Ele deve ser individualizado de acordo com cada caso, especialmente avaliando-se os sintomas predominantes. Por meio de uma avaliação médica criteriosa, será avaliado se há indicação de uso de medicamentos, como os psicoestimulantes, visando melhora dos sintomas.
Além disso, pode ser necessário acompanhamento com equipe multidisciplinar, como psicologia, psicopedagogia e fonoaudiologia, de acordo com a avaliação individual.
É importante ter em mente que o objetivo da intervenção médica não é a cura, e sim uma melhor funcionalidade e, consequentemente, melhor adaptação do indivíduo ao mundo que o cerca.
A participação dos pais e da escola, através da adoção de medidas para melhorar a capacidade de organização dessas crianças, é essencial. O estabelecimento de rotinas e de horários para as atividades é parte importante do ambiente a ser criado em torno dela. Outras medidas que podem ajudar são: adoção de assento fixo nos assentos da frente da sala de aula, estudar em salas com número reduzido de alunos, maior atenção pelos professores a esses alunos.
Cuidados
Obviamente, os rótulos ou associações pejorativas quanto ao quadro, são atitudes altamente prejudiciais para o estabelecimento de um ambiente propício ao ganho de confiança e motivação desta criança.
Por outro lado, mesmo requerendo todo um conjunto de táticas e estratégias, o tratamento dedicado à criança com TDAH não deve ser também marcado por atitudes superprotetoras ou reforços à ideia de que o transtorno pode ser usado como “muleta” para que o indivíduo não se esforce no aprendizado e na busca de objetivos.
Sem o devido tratamento e a correta orientação para a família e educadores, o desenvolvimento de uma criança com TDAH pode ser, de fato, bastante penoso para todas as partes envolvidas, sobretudo para a própria criança.
SEntender que o TDAH é uma patologia é fundamental para que pais, familiares e educadores em geral tenham em mente que não se trata de algo voluntário ou a ser corrigido exclusivamente por meio de cobranças ou castigos. É preciso uma orientação adequada para lidar com o quadro, sem estigmas ou mitos.
|